Para os designers gráficos... e de produto também!

Escolhas pessoais

Claudio Ferlauto
Novembro 2000


Na vida e na arte cada um decide seus caminhos fazendo escolhas e tomando decisões. Para os designers as escolhas determinam os "estilos" e o maior ou menor grau de personalização de seu trabalho criativo. Para se ter um trabalho pessoal é necessário colocar coisas pessoais trabalho, ao contrário você utiliza a linguagem e as fórmulas de outrem, estará fazendo um trabalho com o estilo de outro. Assim se um ilustrador utiliza a linguagem do Seymour Schwast, por exemplo, para construir uma carreira profissional ao sul da última ilha dos Mares do Sul, não está fazendo nada pessoal. Está apenas copiando um outro artista. Na música você pode copiar apenas alguns compassos sem ser considerado um plagiador. Mas no design gráfico vemos pessoas se apropriando de cores, do desenho, do jeito de usar a tipografia, dos enquadramentos, dos cortes, sem se importar (pessoalmente) com isso, e tampouco com o identificação de suas fontes. Quando flagrados ou criticados se explicam afirmando que "fizeram uma homenagem ao autor". Para não cair tolamente nesta armadilha os designers devem ter suas preferências cromáticas, tipográficas, photoshópicas, fotográficas, técnicas etc., para saber de onde estão partindo. E se o caso não se adaptar a nenhuma de suas escolhas, saber que podem fazer novas escolhas negando seus paradigmas ou confrontando suas idéias com as novas necessidade e, portanto, com novos modos de expressão. Escolhas não obliteram a intuição nem a sensibilidade, que nunca devem ser olvidadas no processo criativo. O fato de termos nossos paradigmas não determina de antemão uma resposta pronta para os problemas de design aos quais procuramos dar uma resposta eficiente ou poética. Quem tem a resposta antes da pergunta não trabalha com design mas sim com clichês, e embora todo clichê carregue algo de verdade, eles não respondem a totalidade dos problemas criativos que enfrentamos na vida profissional. Uma vez, tempos atrás escrevi que o norte do designer é a cultura, hoje acrescento a sensibilidade. Ela nos ajuda a identificar na realidade circundante a nossa palheta de cores, o vernacular e popular que qualifica nossa tipografia, o modo como o olho brasileiro se apropria dessa realidade e do pastiche global que nos empurram olhos a dentro.Se não retiramos da vida a matéria prima para nossos designs, não serão os anuários americanos ou europeus que nos ensinarão a fazer um design bem brasileiro.

* Claudio Ferlauto (1944) é designer/arquiteto, crítico de design, editor da seção Olhar Gráfico da revista Abigraf. Tem dois livros sobre design: "O Livro da Gráfica" editado pela Hamburg Donneley e "O Tipo da Gráfica e outros Escritos", da Edições Cachorro Louco, a venda na Livraria Cultura em São Paulo. Dirige com Cristina Burger o escritório QU4TRO Arquitetos. Vive e trabalha em São Paulo.
"Nada pode o olvido, contra o sem sentido apelo do não."
Camila
blog comments powered by Disqus